domingo, 31 de março de 2013

Procurar dentro de nós: Optimismo e Motivação



imagem retirada daqui

Uma frase que me ficou na memória, mas não me recordo o autor é: “Se eu for 98% perfeito em qualquer coisa que faça, será dos 2% que estraguei que me lembrarei no final.” Damos, naturalmente, muito mais atenção aos acontecimentos negativos do que aos positivos. Assim, ironicamente, para sermos optimistas, temos de começar por ser realistas e objectivos. É o que nos diz Chade-Meng Tan no seu livro “Procura dentro de ti”. Este livro, merecidamente nos tops de vendas actuais, tem como título o nome de um curso que ele próprio concebeu (com a ajuda de alguns dos maiores especialistas mundiais no campo da inteligência emocional, da meditação e da psicologia positiva), administrado na Google. A ideia é simples: temos de desenvolver ao máximo a nossa capacidade de atenção. Depois, temos de focar essa atenção em nós próprios e nos outros. Por fim, vamos aprender a desenvolver hábitos mentais que nos acompanharão para sempre.
Chade-Meng Tan, céptico por natureza, rendeu-se aos benefícios, cientificamente provados, das práticas contemplativas, traduzindo os ensinamentos destas práticas para uma linguagem que as pessoas pragmáticas conseguem processar. O programa “Procura dentro de ti” apresenta-se, de facto, como irresistível: tem bases científicas, é altamente prático e tem uma linguagem extremamente acessível com um toque de humor que nos desarma e envolve. E é fantástico comprovar que o programa funciona tão bem com pessoas normais num ambiente empresarial em plena sociedade moderna.
Podemos dizer que percorre três passos essenciais:
1.     Treino da atenção – a atenção é a base de todas as capacidades cognitivas e emocionais mais elevadas.
2.     Autoconhecimento e autodomínio – através da atenção treinada adquirimos uma boa percepção dos nossos processos cognitivos e emotivos alcançando o autoconhecimento e autodomínio.
3.     Criação de hábitos mentais úteis – criar hábitos como ter o seguinte primeiro pensamento instintivo sempre que conhecemos alguém: “quero que esta pessoa seja feliz”. Hábitos como este fazem toda a diferença na nossa vida. Diferença que se baseia, também, numa aprendizagem como a do optimismo e numa descoberta como a da motivação.

Optimismo

Um dos primeiros passos para a aprendizagem do optimismo é, precisamente, ganhar consciência da nossa tendência experiencial fortemente negativa. Se um escritor receber nove críticas brilhantes e uma terrível, o mais provável é que se recorde mais dessa do que das nove positivas. É muito mais provável termos mais sucessos do que insucessos, mas prestamos demasiada atenção aos insucessos. Se compreendermos isto podemos alterar a forma como nos vemos.
O segundo passo é a atenção plena: sempre que experimentarmos um sucesso ou insucesso, devemos prestar atenção ao que se passa no nosso corpo.
O terceiro passo é a transformação: prestar atenção consciente ao sucesso e aceitar o reconhecimento merecido, criando um hábito mental de prestar a devida atenção aos sucessos. Valorizar os sucessos em detrimento dos fracassos pode soar a negação, mas na realidade, ao fazê-lo, aumentamos a objectividade equilibrando a nossa tendência fortemente negativa. Repetindo frequentemente esta prática criamos novos hábitos mentais e da próxima vez que experimentarmos um insucesso recuperaremos mais rapidamente desse revés.

Motivação


Quem melhor do que nós próprios para descobrir o que nos estimula?

Daniel Pink, citado no referido livro, considera que os três elementos da verdadeira motivação são:
1.     Autonomia: o desejo de conduzirmos as nossas próprias vidas.
2.     Domínio: a vontade de nos tornarmos cada vez melhores em algo que consideramos importante.
3.     Propósito: o anseio de fazer o que fazemos ao serviço de algo maior que nós.
Este enquadramento vai de encontro às três práticas de motivação que nos propõe  Chade-Meng Tan:
1.     Alinhamento: alinhar o nosso trabalho com os nossos valores e o nosso propósito maior.
2.     Antevisão: ver o futuro que desejamos para nós próprios.
3.     Resiliência: a capacidade de ultrapassar os obstáculos que encontramos no caminho.

Neste domingo de Páscoa, tempo de renovação e esperança, desejamos que o optimismo e a motivação vos acolham a cada passo.

sábado, 23 de março de 2013

Expandir o olhar do coração


"Paciência e duração de tempo fazem mais que a força e a raiva."
La Fontaine 



Há uns anos atrás, ao visualizar este vídeo, a primeira associação que fiz foi à impaciência dos adultos perante os mais velhos. 
“Os impacientes não têm tempo para amar; não têm tempo de viver!” A impaciência, no adulto, é fruto dela mesma, porque a impaciência é fruto de imaturidade. Imaturidade, algo que não está maduro, algo precipitado, algo feito antes de tempo. Perde-se o controle, perde-se vida. Quanta vida perdida na nossa impaciência!
Ontem, ao visualizar, de novo, estas imagens, pensei, sobretudo, na perda, nos adultos, de se encantarem com o pulsar daquilo que os rodeia, com o pulsar de cada som, de cada cor, de cada aroma… Deixamos de ver aquilo que temos diante dos olhos (partindo do princípio que já vimos) e que tanto nos espantava enquanto crianças. 
Talvez seja essa a magia do envelhecimento e o ensinamento que podemos oferecer aos mais jovens: recuperar o espanto perante a vida de cada momento; existir mais devagar, na paciência do coração; viver e amar na eternidade de cada instante.

domingo, 17 de março de 2013

Ser clown




ELLIOT, clown









http://www.highplay.pt/areavideos/?videos=29&temas_videos=0


O clown é o palhaço cénico, sutil na sua apresentação, característica que o diferencia dos demais palhaços reconhecidos por meio do nariz vermelho que funciona como uma máscara, com um significado que, de certa forma, lhes oculta a face. A máscara do clown vem para mostrar, revelar, expandir a face e, ao mesmo tempo, o corpo. O clown também se distingue pelo seu modo diferenciado de comunicar, de andar, vestir e maquilhar. Cada clown é único e com cada um podemos aprender muito sobre a comunicação, a aceitação das nossas fragilidades, a expressão de quem realmente somos, a generosidade, a emoção, o prazer, a autenticidade, a humanidade.

domingo, 3 de março de 2013

Optimismo trágico - Viktor Frankl



“Há só uma coisa que eu temo: Não ser digno dos meus sofrimentos.”
Dostoiévski 
(citado por Viktor Frankl em O Homem em busca de Sentido)

“A vida significa, em última instância, assumir a responsabilidade de encontrar a resposta adequada aos seus problemas e ultrapassar os desafios que constantemente apresenta a cada indivíduo (…)
O que importa não é o sentido da vida, em geral, mas antes o sentido específico da vida para uma pessoa num dado momento (…)
Numa palavra, cada pessoa é questionada pela vida; e à vida cada um pode apenas responder sendo responsável.”
Viktor Frankl, O Homem em Busca de um Sentido


O conceito de “optimismo trágico”, criado por Viktor Frankl, remete-nos para a questão: Como é possível dizer sim à vida, apesar de tudo?
Pode a vida reter o seu potencial de sentido apesar da dor, da culpa, da morte?
A força da resposta a esta questão reside na própria vida de Viktor Frankl: é no meio do sofrimento que ele, não somente descobre os seus próprios recursos de sobrevivência e superação, como também a base teórica para o desenvolvimento da “terapia do sentido da vida”.
Dizer sim à vida, apesar de tudo, subentende que a vida tem potencialmente significado em qualquer circunstância, mesmo nas mais miseráveis. Tal, pressupõe:
(1) Transformar o sofrimento em realização e aperfeiçoamento humano.
(2) Retirar da culpa a oportunidade de nos mudarmos para melhor.
(3) Retirar da transitoriedade da vida um incentivo para levar a cabo ações responsáveis.
Como referimos aqui, Viktor Frankl apresenta-nos três vias que nos conduzem ao sentido da vida:
 (1) Criando um trabalho ou realizando um feito notável,  ao sentir-se responsável por terminar um trabalho que depende fundamentalmente dos seus conhecimentos ou da sua acção.
 (2) Experimentando um valor, algo novo, ou estabelecendo um novo relacionamento pessoal. Este é também o caso de uma pessoa que está consciente da responsabilidade que tem em relação a alguém que a ama e espera por ela.
 (3) Adoptando uma atitude em relação a um sofrimento inevitável, com a consciência de que a vida ainda espera muito da nossa contribuição para com os demais.
A mais importante é a 3ª via: mesmo a vítima indefesa de uma situação irremediável, colocada ante um destino que não pode mudar, pode erguer-se acima de si mesma, pode crescer para além de si mesma e, desse modo, mudar quem é. Pode transformar uma tragédia pessoal numa vitória.
Viktor Frankl não só sobreviveu a horrores inimagináveis, como também soube dar “sentido” ao seu sofrimento, transformando-o numa vida plena sentido e ajudando-nos a crescer em consciência e responsabilidade. O seu livro O Homem em Busca de um Sentido escrito em 1946, continua a ser um dos mais influentes de sempre. A sua mensagem perdura e dá-nos força para enfrentar as adversidades e permanecer optimista, apesar de tudo. 

Nota: Relembramos, ainda, este texto maravilhoso de Anselmo Borges.