Referimos, no post anterior, dois dos grandes obstáculos que
se colocam ao encontro connosco, com os outros e com o mundo que nos rodeia: Mescla
entre observação, julgamentos, emoções, interpretações… Quando julgamos,
dividimo-nos, separamo-nos do nosso ser mais profundo e do ser mais profundo do
outro. Congelamos a realidade e fechamo-la num único dos seus aspectos.
Travamos o curso do rio que nos leva ao campo do encontro.
Gauguin
Thomas d`Ansembourg enuncia, ainda, os seguintes obstáculos:
3º) Agimos em função de critérios exteriores: o hábito, a tradição, o dever
imposto ou suposto (“Acho que tenho que…”), o medo do olhar do outro – pais,
conjugue, filhos, colegas… - ou essa parte de nós próprios que não conhecemos
bem, que não nos é familiar e cujo juízo ou culpabilidade receamos.
Habituámo-nos “a acreditar que somos mais ou menos sempre e mais ou menos totalmente responsáveis pelo
bem-estar do outro, assumindo uma impressão confusa e quase constante da nossa
culpabilidade em relação ao outro, bem mais do que uma percepção esclarecida da
responsabilidade de cada um. Ao mesmo tempo, habituamo-nos a acreditar que o
outro é mais ou menos sempre e mais ou
menos totalmente responsável pelo nosso bem-estar, assumindo uma impressão
confusa e quase constante da sua culpabilidade ou dívida em relação a nós”, esperando
que o outro cuide das nossas necessidades sem que as tenhamos identificado ou
dirigindo-lhe pedidos como se fossem exigências, sem explicarmos qual é a nossa
necessidade. Então, se o outro não reagir como desejamos, criticamos, julgamos…
Tomar consciência das nossas necessidades ajuda-nos a
perceber que estas existem independentemente da situação ou pessoa com quem
possamos estar. As pessoas ou situações só nos dão a oportunidade de as
satisfazer, pois as necessidades são preexistentes a qualquer situação.
Exprimir a nossa necessidade diferenciando-a das nossas
expectativas em relação ao outro, abre-nos todo um potencial de soluções entre
as quais pode existir a sua intervenção, mas não só. Por outro lado, dá-lhe um
espaço de liberdade, liberdade que possibilita o verdadeiro encontro.
4º) Incompreensão das nossas necessidades.
Se não compreendermos as nossas necessidades acabaremos por
lheS renunciar submetendo-nos às soluções dos outros para lhes agradar (“ser boa
pessoa”) ou por impor as nossas soluções, ou ainda por ficar à espera que os
outros nos “adivinhem”.
É incrível como, por estranho que pareça, as nossas
necessidades precisam mais de reconhecimento do que satisfação.
É extraordinariamente apaziguador tomar consciência do nosso
mundo interior, sem forçar uma parte, nem recalcar outra: identificar e nomear
necessidades cuja satisfação, num determinado momento, nos pareça conflituante
e, portanto, não exista uma solução imediata. Ao fazê-lo redefinem-se prioridades e abrem-se caminhos para novas soluções.
É a consciência da necessidade que nos permite uma escolha
viva que envolve a nossa totalidade no encontro com o outro.
Fonte: Seja verdadeiro, Thomas d`Ansembourg